12.17.2012

impossível é não viver

Se te quiserem convencer de que é impossível, diz-lhes que impossível é ficares calado, impossível é não teres voz. Temos direito a viver. Acreditamos nessa certeza com todas as forças do nosso corpo e, mais ainda, com todas as forças da nossa vontade. Viver é um verbo enorme, longo. Acreditamos em todo o seu tamanho, não prescindimos de um único passo do seu/nosso caminho.
Sabemos bem que é inútil resmungar contra o ecrã do telejornal. O vidro não responde. Por isso, temos outros planos. Temos voz, tantas vozes; temos rosto, tantos rostos. As ruas hão-de receber-nos, serão pequenas para nós. Sabemos formar marés, correntes. Sabemos também que nunca nos foi oferecido nada. Cada conquista foi ganha milímetro a milímetro. Antes de estar à vista de toda a gente, prática e concreta, era sempre impossível, mas viver é acreditar. Temos direito à esperança. Esta vida pertence-nos.
Além disso, é magnífico estragar a festa aos poderosos. É divertido, saudável, faz bem à pele. Quando eles pensam que já nos distribuíram um lugar, que já está tudo decidido, que nos compraram com falinhas mansas e autocolantes, mostramos-lhes que sabemos gritar. Envergonhamo-los como as crianças de cinco anos envergonham os pais na fila do supermercado. Com a diferença grande de não sermos crianças de cinco anos e com a diferença imensa de eles não serem nossos pais porque os nossos pais, há quase quatro décadas atrás, tiveram de livrar-se dos pais deles. Ou, pelo menos, tentaram.
O único impossível é o que julgarmos que não somos capazes de construir. Temos mãos e um número sem fim de habilidades que podemos fazer com elas. Nenhum desses truques é deixá-las cair ao longo do corpo, guardá-las nos bolsos, estendê-las à caridade. Por isso, não vamos pedir, vamos exigir. Havemos de repetir as vezes que forem necessárias: temos o direito a viver. Nunca duvidámos de que somos muito maiores do que o nosso currículo, o nosso tempo não é um contrato a prazo, não há recibos verdes capazes de contabilizar aquilo que valemos.
Vida, se nos estás a ouvir, sabe que caminhamos na tua direcção. A nossa liberdade cresce ao acreditarmos e nós crescemos com ela e tu, vida, cresces também. Se te quiserem convercer, vida, de que é impossível, diz-lhe que vamos todos em teu resgate, faremos o que for preciso e diz-lhes que impossível é negarem-te, camuflarem-te com números, diz-lhes que impossível é não teres voz.

José Luis Peixoto, Abraço.

5.08.2012

o sitio onde as criancas brincam livres e soltas pela rua, onde se pode ficar a dever, onde o por-do-sol e esmagador e a agua do mar transparente, onde o tempo passa devagar para podermos aproveitar todos os bocadinhos, onde todos parecem felizes, onde nos sentimos benvindos, onde o silencio ainda e verdade, onde os morcegos voam ate de dia, onde sentimos a mudanca a acontecer e fazemos parte dela, onde as montanhas cheiram ao quintal do meu avo ao fim da tarde, onde ha sempre tempo para mais dois dedos de conversa e um bocado de pao, onde o pouco e tudo o que precisamos, onde recebo pessoas das mais estrambolicas partes do mundo de mao estendida e dias depois me despeco de bracos abertos, onde todos sao preguicosos e ninguem se importa com isso. Crna Gora

4.15.2012

em modo

pausa diaria para assistir ao por do sol vegetais deitar e acordar cedo caminhar na montanha dois euros e meio por dia a mesma roupa quatro dias babysitting a vida devagar dobar dan ele e eu mochila a repousar dona de casa montenegrino cheia de chuva comidas novas pessoas o mundo. feliz.

1.26.2012

detesto esperar. detesto esperar que os dias passem. detesto a sensação de desespero ansioso. adoro muito a palavra detesto. e o formigueiro pelo corpo. a certeza de partida para o incerto. que não chega. todos os dias olho a mochila. em breve cheia. pesada nas costas. nervosismo. detesto andar de avião.

12.03.2011



"os gestos são únicos e nocturnos. Quase em silêncio, digo: amor."


10.18.2011

inevitabilidade de movimentos de existência não de ser urgência de ser assim animal inconsciente sublime camadas e camadas de ser só ser como quando não até aí temos espectadores não podemos assim temos vergonha somos subservientes sabemos que sim não não travestimos a vontade pura de moralismos baratos tirados de programas televisivos de carácter duvidoso livre livre é assim livre é ser muito mais que a eva o adão fodeu-nos a todos não fosse adão e não vergonha e todos no paraíso livre livre é "não fica triste, e eu toma! que já fiquei triste."

9.07.2011


A quem nada tem para dizer se dispensa o dom da fala.



8.21.2011



















*Andre Jordan

5.20.2011

torpeda


Não costumo partilhar coisas de que gosto muito muito e que fazem parte do meu mundinho; gosto de mante-las só para mim, olhar para elas com o prazer especial de serem só minhas. Por outro lado, algumas vezes dá-me umas vontades. Como hoje fazes anos e como este som traz inerente a mensagem subliminar da felicidade, cá fica!


Subitamente o mundo ganha outra cor, não te sentes melhor?!

5.06.2011


want to pack your bags something small
take what you need and we disappear
without a trace, we'll be gone, gone
The moon and the stars follow the car
and then when we get to the ocean,
we're going to take a boat to the end of the world...
all the way to the end of the world
oh and when the kids are old enough
we gonna teach them to fly

DMB

4.28.2011



(...)and the trees are naked and lonely. I keep trying to tell them new leaves will come around in the spring but you can't tell trees those things, they're like me, they just stand there and don't listen

4.26.2011

4.20.2011

araki

4.18.2011


Juntou tudo e ficou especado no meio do quarto, com as coisas na mão.

Dostoiévski

3.31.2011

3.19.2011

3.15.2011

saudades


entre asas e raízes inclino-me quase sempre para as primeiras.

3.14.2011

3.05.2011

2.22.2011

Quero ter coragem para cortar a última rasta e aceitar o cabelo cada vez mais cor-de-laranja e a cara cada vez mais sardenta.
Quero recomeçar a minha viagem em Berlim, voltar a ver a Inéz e a sentir o Mundo por dentro.
Quero o peso do teu olhar todos os dias e morar contigo outra vez.
Quero dizer à minha mãe que, no fundo, tudo o que almejo é conseguir ser metade da pessoa que ela é.
Quero que qualquer dia me contes como tudo aconteceu.
Quero voltar a morar no Porto e deixar de ser gozada pela forma como pronuncio os R's e as palavras mãe, pão e um.
Quero voltar a ter vontade de escrever e que a minha vida dure, pelo menos, para ler uma parte dos livros que acho indispensáveis.
Quero muito ver-te crescer e fazer de mim alguém melhor todos os dias.
Quero que os países acabem: um mundo verdadeiramente livre e igual.
Quero o peso da mochila novamente nas costas.
Quero poder encontrar a senhora que me deu boleia a meio da noite numa estrada de Berlim.
Quero que a Austrália me envie um relógio dourado e bimbo, que não vou usar mas vai certamente aquecer-me o coração.
Quero continuar a ouvir-te dizer que queres ver crescer alguém com as minhas sardas e os meus olhos em bico.
Quero fazer teatro, dizer com o corpo, espalhar textos em livros escolhidos aleatoriamente e realizar um filme.
Quero escrever-te mais cartas.
Quero mais vinis no gira-discos e ouvir-te cantar a Manhã de Carnaval.
Quero continuar a ver o meu corpo ficar coberto de tatuagens.
Quero levar-te comigo da próxima vez.